Sou Torta

Me fechei em seus poros
subitamente explícitos
num delírio ilusório
tentando esconder meus ilícitos

E apesar de seus lábios
não afagar meus anseios
Me senti tão estável
ao me encontrar em seus meios

Me afoguei em seus olhos
unicamente tão vívidos
num alívio provisório
maquiando o doer de meus gemidos

E apesar de seu verso inábil
não apagar meus ensejos
me sorri o improvável
de várias formas e jeitos

Eu sou esse ruído
que ainda não encontrou a clave
E fica ali tinindo
sentindo o vazio que não cabe.

Eu sou em mim um vestígio
um rastro na areia de meu existir.
Sei que me salta o desígnio
de não conseguir me traduzir.

Eu sou essa porta
que ainda não encontrou a chave
E fica ali trancada
fechada, inerte, sem que ninguém a repare.

Eu sou assim tão torta
quanto o traço que permeia o fim.
Sei que me falta uma volta
um começo, um meio e um sim.

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ToyFace

Menina de bochechas rosadas, voz séria e maquiagem de palhaço.

Toyface

Eu diria que tem os olhos graves como cada acorde que acompanha os sentimentos de suas composições.

Com o nome artístico Toyface, a moça de nome desconhecido (se alguém souber, favor postar nos comentários), vem com todo seu talento de Bristol, no Reino Unido.

toy

Sem muto mais informações, aprecie conosco suas composições e interpretações:

Aparentemente uma amante de poesia, Toyface declara em seu blog a inspiração que vem através de versos. A artista pode ser acompanhada por sua página no Facebook e suas músicas estão disponíveis para audição no Myspace. Uma delas é “Beige Walls”, ouça:

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Hoje choveu Nova Iork

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Uma chuva fina, torta, cortante, que me lembrou uma viagem que fiz pra Nova York. Era incrível como os pingos cadentes choviam uma nostalgia contínua, que beirava o slow motion. Era vagaroso. Bem lento. As músicas são assim também, trazem memórias. Há quem diga que um perfume lembre um momento, outros acreditam nas cores, e ainda há outros que defendem as texturas. “Áspero como o muro do quintal que eu morei quando tinha três anos”. Mas nunca pensei que com a chuva funcionasse também. Já chovia há uns, sem brincadeira!, quinze minutos, e foi só depois disso que percebi que estava sem guarda-chuva e, portanto, vesti o capuz do casaco. Mas bastaram quinze minutos para uma série de imagens ressuscitarem, foi como abrir uma gaveta cheia de papéis guardados trancada há muitos anos e apontar um ventilador ligado para os papéis, a fim de ver tudo aquilo pelos ares espalhando poeira pra todos os lados. Lembrar de coisas boas vividas que você gostaria que fossem vividas de novo e de novo e de novo. Empreendedores de plantão, percebam essa ideia: o quão legal – e lucrativo,  ok – seria se houvesse um produto no mercado que trouxesse de volta momentos bons da vida para serem vividos novamente? Uma boa ideia, não? Porque tudo passa. E algumas coisas são tão especiais que seria legal se passassem de novo. Porque as coisas ruins passam, sempre passam, mas ninguém avisa que as boas também. “Calma, isso vai passar…”, diz o amigo consolador tentando ajudar naquele momento difícil, mas atenção: aqui entram os bons momentos também, já aviso. Não se deixe enganar. E foi assim que fui bombardeado por lembranças boas quase esquecidas em plena terça-feira, na av. Faria Lima. Foi água. Enquanto não inventam o tal produto, aguardemos.

Esperando pela próxima chuva.

 

Do Blog 9 Estórias

 

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