“A poesia é mutante, e tomou forma de rock!”
Hoje, trazemos uma novidade, encontrada perdida entre os escombros, e cheirando a naftalina. Estávamos fuçando alguns guardados, e de repente em meio ao pó, apareceu uma música, que beira a genialidade, pra não dizer a loucura. O nome da música é Paralelo ao Chão, da Medulla, uma mistura de versos largada e despretensiosa, que brinca com a sonoridade e toma conta de tudo, sem pedir licença.
Acha que exageramos? Então abra os ouvidos e deixe o verso arrombar seus sentidos…
Paralelo ao Chão
Ao ouvir as outras faixas, nos deixamos entregues a poesia solta que se faz notar em cada rima cheia de sentido que esses alucinados imprimem em suas composições. A banda tem como vozes os gêmeos recifenses Keops e Raoni. Ainda pequenos mudaram-se para São Paulo, depois Rio de Janeiro, voltaram para Recife e por fim Rio de Janeiro novamente, onde formaram algumas bandas até chegarem a fórmula do Medulla, que passou a ser completa com a inclusão de Dudu Valle, Alan Lopes, Daniel Martins e o Rodrigo Silva.
Eles fazem um rock que dizem ser contaminado pelo espírito de todas essas cidades pelas quais passaram e influenciado pela junção de todas as vertentes musicais possíveis e inimagináveis. Quem ousa decifrar essa metamorfose multisonora, normalmente se perde em suas colocações e não sabe se quer definir o seu estilo. Uns dizem ser um rock experimental, outros uma poesia sinfônica ensandecida, e alguns criam novas termologias, sem contudo, realmente contemplar toda a gama de nuances criativas presente em seu som. Seu primeiro disco de 10 canções, chamou-se O Fim Da Trégua e foi gravado entre Rio e São Paulo. Nesse disco a única faixa não autoral da dupla foi a “O Velho”, de autoria de Chico Buarque e que, nesse disco, ganhou um som oitentista.
“O Medulla não é a mais nova “salvação do rock” – eles vieram para destruir… e construir tudo de novo em cima dos escombros.” – Edu K
Os caras saíram de uma grande gravadora, em seu primeiro álbum, para apartados das regras mercadológicas, partirem para uma abordagem totalmente independente e voltada para invencionices desfocadas e geniais, que se caracterizam em cada nota tocada de forma perdida e em cada verso desconexo rebatizado por uma rima desforme e sem culpa.
A verdade é que ao ouvir Medulla pela primeira vez, você nota de cara um toque psicodélico que permeia as canções e ao mesmo tempo uma qualidade singular em cada acorde, que se veste com as letras, de um modo tão inspirador quanto intenso. A qualidade de suas músicas é realmente intrigante, e instiga a querer ouvir mais e mais.
“O Medulla mira certeiro seu coquetel molotov na MPB, no rock, no jazz, na música de rua, esvaziando nossos pulmões de ar estagnado, enchendo nossos corações com a certeza de que a música ainda é marginal, ainda importa, ainda nos conecta com o universo, com o infinito; ainda proporciona aquele frio na barriga de quem olha pra dentro do abismo… e sorri, e caçoa.”
A pegada forte deles, com certeza, não está só em suas composições diferentes e interessantes, mas na verdade, nesse “q” de O Rappa, em sua época áurea, nesse “por que” meio “nonsense”, meio “Raimundiano”, e nesse existir quase que desafiador, pois é um “ser” estranho, que não tem muito a ver com nada, que você ouve por aí.
E então, que o ecoar descompassado e fora de ritmo de seu som soe além dos olhos e voe além das claves, emanando a sua inquietação por todo o canto que haja poesia. Em outras palavras, dispa-se do mesmo, aumente o som e deixe o Gramofone em si se libertar:
“Assistir um filme de Spielberg roendo as unhas…”
Prematuro Parto Fórceps
“Se é mesmo a vida que desata os nós…”
Eterno Retorno
“Vem cá ver que o novo é bom… pode amedrontar-te… atropelar-te…”
O Novo
“… um sonhador que não sonhava…”
Salto Mortal
“Posso pouco, tudo é risco de vida, sem você no corpo é como pingar limão e andar no sol…”
Gosto de Guarda Chuva
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